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segunda-feira, 30 de julho de 2018

09 julho 2018


E de burocracia em burocracia, de requerimento em requerimento, de telefonema em telefonema, de pedido atrás de pedido, solicitações e mais esperas, e calma muita calma, lágrimas escondidas, porque às vezes o desespero, a ansiedade e o medo são mais fortes que tudo o resto à nosssa volta, que todas as probabilidades, que todos os conselhos, que toda a razão, o medo do sim e do não vence-nos de variadas formas.
Hoje, passados quase 10 meses aquela carta chegou. 
A decisão que depois do factidico dia em que o pior aconteceu, o improvável, o impossivel, desde o dia em que as nossas vidas se desmoronaram e saiste no teu passeio de bicicleta e não voltaste.
Desde esse factidico dia em que fui ao hospital para te ir buscar porque te tinhas sentido mal no caminho. Nesse malvado dia em que deveria ter pressentido tudo antes, e nada, nada me disse que me iriam levar para reconhecer o teu corpo inerte já sem vida, ainda morno, sorriso estampado no rosto calmo e sereno de quem se foi na viagem de regresso a casa.
Não à casa que passamos a vida a querer e a conquistar, mas aquela que temos guardada num lugar sabe se la onde.
Tu, já tinhas ido, já não estavas mais ali. 
E ali naquela sala, olhando o teu rosto, ainda não acreditando que podias ser tu, um grito solta - se na garganta e do meus olhos uma torrente de lagrimas correm, tudo á nossa volta deixou de existir. E a partir daquele momento parece que o nosso corpo entra no modo automático e tudo parece um enorme pesadelo de que vais acordar no instante seguinte. 
Abraço a minha menina, e o seu mundo desabou e com ele o meu desaba a dobrar, as suas lágrimas e soluços são facas que se espetam no meu peito meu coração sangra.
Como podemos nós superar esta dor? Como?
E desde esse dia fecho os olhos, e passados dez meses ainda te vejo ali, calmo e sereno naquela maca, a dormir para sempre. 
E a consciencia de que isso é a unica coisa que é para sempre, nunca mais te irei ver sorrir e dizer parvoices. 
Nunca mais irei ralhar pelas coisas do dia a dia, que não damos conta que podem acabar a qualquer momento. 
E depois... 
Depois tudo continua na mesma, o mundo não pára, tudo á nossa volta continua em movimento, tudo! 
As flores continuam a florir o vento continua a soprar o sol continua a brilhar com aquele brilho extasiante, não se importanto com a escuridão tremenda que existe em mim, em nós. 
E continuamos... em modo automático, porque o nosso corpo é uma maquina tão perfeita, que se desliga perante um choque destes e nós continuamos, como automatos, como maquinas que não sabem como sentir e o que sentir, porque tudo á nossa volta é tão estranho. 
E continuamos alienados, a pouco e pouco retomar o que ficou parado no tempo, porque esse é imparável e cada vez exige mais e mais de nós. 
E hoje, finalmente aquela carta chegou, hoje, a dor volta toda novamente, releio - a vezes sem conta, as lagrimas não param, os soluços quase me sufocam, mas ao mesmo tempo um sentimento de alivio chega, porque já nada posso mudar apenas aceitar.
Aceitar que não te vou ter mais. Uma realidade tão louca, tão sofrida, Nunca Mais, Então é isto! isto é o verdadeiro significado do nunca mais.
Mas espero, desejo que tudo isto tenha uma razão de ser, 
A nossa vida nunca mais será a mesma sem ti, mas um dos teus sonhos está realizado, abraçadas uma a outra gritamos de dor, queriamos - te a ti, era só isso que queriamos, mas isso é a única coisa que já não é mais possível. 
E só nos resta este consolo, este teu sonho foi realizado. 
As burocracias estão quase a chegar ao fim, pelo menos este pesadelo vai ter fim, e talvez agora as nossas vidas recomecem. 
Talvez agora...

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