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domingo, 22 de junho de 2008

Vida Moderna

A vida moderna está, centrada no combate ao sofrimento. Tudo nos impulsiona para viver melhor, prevenir as doenças, passear e gozar a vida, combater o stress, evitar o desgaste….A mentalidade do sacrifí­cio deu lugar á afirmação do direito a viver bem, a aproveitar com qualidade uma existência longa, saudável e feliz.Mas esta tendência para nos defendermos de tudo o que possa perturbar este ideal de vida também pode trazer alguns amargos de boca.No caso dos afectos, por exemplo, este reflexo traduz-se num crescente egoísmo, quando não mesmo num isolamento escolhido como forma de evitar desilusões. Ouvi à pouco tempo a trás casos que me chamaram a atenção para isto: uma mãe que instigava o filho para não se apaixonar “porque isso só te vai trazer desgostos”; uma neta que não queria ir visitar o avô doente, com medo do desgosto que teria se ele morresse; um homem que não queria comprar um cão porque inevitavelmente “se ia afeiçoar ao animal” e isso lhe ia criar dependências. Três casos tão diferentes com a mesma raiz – o medo de sofrer a sobrepor-se ao prazer de amar plenamente, de se entregar a um afecto. O calculismo egoísta a bloquear o impulso de cativar e ser cativado, como se a felicidade fosse um bem vazio e estéril. E, de repente, as pessoas olham e não lhes falta nada, compram tudo o que cobiçam, vão onde lhes apetece, nada as tolhe. Mas sentem-se infelizes, deprimidas, sem vestígio de paixão porque se tornaram avarentas de si próprias. Guardam-se de tudo o que as possa afectar e esquecem-se de que não há amor, nem amizade, nem interesse, sem compromisso, sem que uma parte de quem gosta fique nas mãos do objecto do seu sentimento. Esquecem-se também que a felicidade não é a ausência de qualquer tipo de sofrimento, antes é muitas vezes o prazer de ser capaz de prescindir de si próprio a favor de algo que vale a pena. Correndo o risco de a perder, sem duvida, mas ganhando a cada momento o prazer de a ter tido.
(Desconheço o autor)
"(...)E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, então teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...(…)- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não teem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa. "
Antoine de Saint-Exupéry
in O Principezinho

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