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domingo, 22 de junho de 2008

Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos próprios filhos. Não mais os buscaremos nas portas das discotecas e das festas. Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judo. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, posters, agendas coloridas e discos ensurdecedores. Não os levamos suficientemente ao Playcenter, ao Centro Comercial, não lhes demos suficientes hambúrgueres e coca-colas, não lhes compramos todos os gelados e roupas que gostaríamos de ter comprado. Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afecto. No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscina e amigos. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de chiclets e cantorias sem fim. Depois chegou o tempo em que viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar os amigos e os primeiros namorados. Os pais ficaram exilados dos filhos. Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, de repente, morriam de saudades daquelas "pestes". Chega o momento em que só nos resta ficar de longe torcendo para que eles acertem nas escolhas em busca de felicidade. E que a conquistem do modo mais completo possível. A solução é esperar: a qualquer hora podem dar-nos netos. O neto é a hora do carinho ocioso e guardado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer connosco. Por isso os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável carinho. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afecto. Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que eles cresçam. Aprendemos a ser filhos depois de sermos pais. Só aprendemos a ser pais depois de sermos avós...
(Desconheço o autor)

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