
Amo-te por todos os tempos que não vivi
Pelo cheiro do mar largo e o cheiro do pão quente
Pela neve que derrete pelas primeiras flores
Pelos animais puros que o homem não assusta
Amo-te para amar
Amo-te por todas as mulheres que não amo
Quem me reflecte senão tu eu-mesmo vejo-me tão pouco
Sem ti não vejo mais que uma extensão deserta
Entre o outrora e hoje
Houve todos esses mortos que transpus na miséria
Não pude atravessar o muro do meu espelho
Tive de aprender a vida palavra a palavra
Como quem esquece
Amo-te pela tua sabedoria que não é a minha
Pela saúde
Amo-te contra tudo o que é apenas ilusão
Por esse coração imortal que não detenho
Acreditas ser a dúvida e és apenas a razão
És o grande sol que me sobe à cabeça
Quando estou seguro de mim.
Paul Éluard
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