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quarta-feira, 14 de maio de 2025

Se Eu morrer ...

 


Se eu morrer de manhã
abre a janela devagar
e olha com rigor o dia que não tenho.
Não me lamentes. Eu não me entristeço:
ter tido a morte é mais do que mereço
se nem conheço a noite de que venho.
Deixa entrar pela casa um pouco de ar
e um pedaço de céu
- o único que sei.
Talvez um pássaro me estenda a asa
que não saber voar
foi sempre a minha lei.
Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
e do mistério nada te direi.
Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar é da morte quanto sei.

Rosa Lobato de Faria

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

sexta-feira, 22 de março de 2024

Mas afinal, o que se leva da vida, senão os remorsos?



"Remorsos do que poderia ter sido e não foi, e do que se perdeu depois de ter sido. Remorsos do que devia ter sido dito e feito, e não o foi a tempo, ou do que foi demasiadamente dito e feito. Remorsos destes eternos desencontros, desta sensação de que nada existe no seu tempo certo, de chegar sempre tarde ou partir cedo demais.”

Miguel Sousa Tavares

sábado, 4 de novembro de 2023

Medo

Perdi - te, e comecei a ter medo.
Medo de sair para a rua, porque em casa me sinto segura.
Medo de andar de carro, porque posso ter um acidente.
Medo de ir de férias no verão, porque há incêndios por todo lado e isso me apavora.
Medo de sair de inverno, porque tem  chuva e inundações.
Medo de andar de moto porque é perigoso. 
E comecei a ter medo de ter medo. 
E depois descobri que este medo é uma doença, e que não tem cura, mas pode ser controlado, porque estou a aprender que tudo pode acabar num simples passeio de bicicleta, porque foi assim que te perdi, num lindo dia de sol de outono, sem vento, sem chuva e sem incêndio.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Angústia



Há dias de tanta angústia
Que não sei do que ela é.
Não sei se me sobra o sonho.
Não sei se me falta a Fé.
É uma angústia que nasce,
Como de um solo, de mim,
Que parece ser eu todo
Com razão de ser assim.
E esmaga-me toda a alma,
Confunde todo o meu ser
E tudo gira em meu torno
Sem eu o compreender.
Mágoa como um portão velho,
Ferrugem da quinta em fim,
É uma angústia que cai,
Como num solo, por mim…

(Fernando Pessoa)

Preciso de um amigo.

 


Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando 
chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância.
Preciso de um amigo para não enlouquecer, para contar o que vi de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças d´água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim. 
Preciso de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já tenho um amigo.
Preciso de um amigo para parar de chorar. Para não viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que me chame de amigo, para que eu tenha a consciência de que ainda vivo.

 (Desconheço o autor)